7 de fev. de 2010
A Hora da Estrela, Macabéa - e o mistério de Clarice Lispector
Hoje terminei a leitura de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector - Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1998, 1ª Edição. O livro foi um presente daquele que tanto me ama, e sem sombra de dúvida abrilhantou minh'alma.
O texto é escrito de forma simples, poética, porém muito profunda. Nele encontramos um narrador que nos conduz à nordestina Macabéa e nos insere em suas reflexões.
Em A Hora da Estrela, o narrador, Rodrigo S. M., é uma espécie de "outro eu" de Clarice Lispector. Na história, nós leitores fazemos parte do processo de criação do enredo; ao passo em que Rodrigo S. M. nos faz conhecer Macabéa, também nos faz conhecer sua própria identidade.
É notório que Clarice, neste livro, questiona o contexto social da época, os valores, a justiça e a própria existência humana. É visível a preocupação com os oprimidos e os miseráveis.
Verifica-se isto desde a dedicatória do livro, em que Clarice escreve: "Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. Trata-se de livro inacabado porque lhe falta a resposta. Resposta esta que espero que alguém no mundo ma-dê". Bem como na página 17, Clarice fala em transgredir e escrever sobre a realidade, dentre outros.
Ao meu sentir, há muito mais implícito no livro. Nele, Clarice revela-se em Rodrigo S. M. e na própria Macabéa; aquele com uma doença terminal e esta uma mulher solitária e de infância pobre. Rodrigo S. M. identifica-se e morre com Macabéa.
Clarice fala de seus fracassos e de querer encontrar a Deus; de construção de uma imagem melhor quando fala de sua transfiguração em outrem (p.18), e em ser mais do que é, pois é tão pouco (p.21). Ela deixa claro muitas vezes não querer pensar em futuro, em ter saudade do futuro, no querer ter futuro. (p.85)
Assim como Macabéa - para afastar a tristeza, Clarice esforça-se para rir diante da constatação da morte. (p.61, 86)
"O silêncio que creio em mim é a resposta a meu mistério". (p.14)
Percebo o mistério no silêncio de sua aflição diante de Deus, da vida e da morte. Na angústia diante da exiguidade de tempo para a prática das verdades, para uma nova postura diante de Deus, da vida, das pessoas amadas e da sociedade.
Clarice externa o desejo de corrigir seus erros e omissões, de ser quem poderia ter sido e não foi. Ela se diz preparada para sair da vida à francesa, desaparecer; talvez por isto tenha criado Rodrigo S. M. para nos apresentar Macabéa.
Acredito que o desejo de Clarice era o de permanecer viva na memória de seus leitores, como um mito que sobrevive para sempre. E afirmo: Clarice não morreu!
Ao final, lê-la foi tão dorido que houve momentos em que eu própria queria aplacar tamanha solidão, sofrimento e tristeza.
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Yuri,
Obrigada por apresentar-me à maravilhosa Clarice Lispector, cuja escrita é singular e inebriante. Sabendo de seu amor pela Clarice como escritora, tenho de confessar que, a partir de agora, sou capaz de socializar sem dor alguma com mais esta mulher, pois já faço isto com Aninha e Camila, o que há de mais caro em mim, o seu amor.
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Maravilhoso texto! Você fez uma descrição da obra com perfeição.
ResponderExcluirParabéns! Amei mesmo!
Muito bom post, ótimo blog, uma brisa suave de intelectualidade com dosagens homeopáticas de graça e de fé. Que Deus continue abençoando sua vida!
ResponderExcluirAmiga,
ResponderExcluirMuito boa a explanação acerca desta obra de Clarice Lispector,ela é sem dúvida espetacular.
A sua reflexão sobre o fato da personagem está perto da morte e por isso querer se transformar em uma pessoa melhor para com isso se aproximar de Deus,foi de muita perspicácia e sutileza!
Amei o texto.Escreva mais sobre outros grandes autores da literatura brasileira é sempre bom ler coisas boas sobre personalidades interessantes.
Parabéns.
Fran Azevedo.
CACAU:
ResponderExcluirObrigada, amiga!
Beijos!
PR. SÉRGIO FERNANDES:
Obrigada pelas belas palavras!
Seja bem-vindo!
FRAN:
Obrigada, amiga!
Beijos!